Galera, vamos ser sinceros: quem de nós, gamers na faixa dos 20, 30 e tantos anos, nunca sentiu aquela pontada de desespero quando o YouTube te força a engolir um trailer de um minuto de um jogo AAA que você não tem o menor interesse? É o “Marketing do Milhão”, onde as empresas gastam mais dinheiro em publicidade do que na própria produção do jogo, e a gente, do lado de cá, se sente mais um número em uma planilha do que um jogador de verdade. A gente já sabe, o objetivo é atingir o máximo de gente possível, mas a gente também sabe que a mensagem, muitas vezes, é tão genérica que mal consegue nos manter acordados.
Mas, felizmente, o universo dos games é vasto e cheio de vida, e uma nova categoria de jogos tem se mostrado o paraíso da diversão, e também da publicidade mais inteligente e autêntica: os jogos AA. Se você ainda não está familiarizado com o termo, pense neles como o “meio-termo” perfeito. Não são os gigantes de orçamento astronômico como um novo Grand Theft Auto ou Call of Duty (os “AAA”), nem são os pequenos e independentes, feitos por uma ou duas pessoas em uma garagem (os “Indies”). Os jogos AA são o “ponto G” da indústria: produções com orçamentos consideráveis, mas não exorbitantes, que focam na qualidade, na inovação e, principalmente, na alma. Estamos falando de obras-primas como Hellblade: Senua’s Sacrifice, a série A Plague Tale, e até mesmo o recente e aclamado Trek to Yomi. São jogos que não precisam de um milhão de atores famosos e efeitos visuais dignos de Hollywood para nos conquistar. Eles nos seduzem com histórias profundas, gameplay criativo e, claro, um marketing que, finalmente, parece conversar de verdade com a gente.
E é aí que a magia acontece. As grandes marcas e os publishers que realmente entendem a dinâmica do mercado de games AA perceberam que o velho manual de publicidade, aquele que fala em “alcance”, “impacto” e “impressões”, não funciona mais. Ninguém se importa com um outdoor digital de um jogo AA no meio da Times Square. O que importa é a autenticidade. E a forma mais eficaz de ser autêntico nesse mercado é, simplesmente, ser parte da comunidade. O gamer de hoje não quer ser bombardeado com anúncios. Ele quer ser convidado a fazer parte de uma conversa, de uma descoberta. E o canal perfeito para essa conversa são os streamers e criadores de conteúdo.

Pense por um segundo. Um grande streamer com milhões de seguidores, que normalmente joga Fortnite ou Valorant, de repente recebe um cheque gordo para fazer uma live de um jogo AA de plataforma que ele nunca ouviu falar. A chance de a live ser um fracasso e o público não se conectar com a experiência é enorme. A audiência sente a falta de paixão, o “cheiro” de publicidade barata. Agora, imagine o contrário. Um streamer de médio porte, com um público super engajado e que tem um carinho especial por jogos narrativos ou de terror, recebe um código de acesso para um novo título AA de terror. A paixão dele é genuína. A reação dele é autêntica. E a comunidade que o segue, que confia nele, vai sentir essa energia. Eles vão ver que o streamer não está ali só pelo dinheiro, mas porque ele realmente gostou do jogo. Essa confiança se transforma em cliques, em adições à lista de desejos e, por fim, em vendas. É um marketing de nicho que se propaga por meio do “boca a boca” digital.
Essa estratégia não é só mais eficaz, ela também é muito mais inteligente e barata. Ao invés de gastar milhões em um anúncio de 30 segundos durante um evento esportivo, a editora de um jogo AA pode direcionar esse dinheiro para dezenas de parcerias menores, com criadores de conteúdo que têm audiências de nicho, mas que são extremamente engajadas. É como plantar sementes em um solo fértil, em vez de jogar um monte de sementes no asfalto. A chance de o investimento gerar um retorno positivo é exponencialmente maior.
Além disso, os publishers dos jogos AA também entenderam a importância de construir uma comunidade antes mesmo do lançamento. Eles usam plataformas como Discord e Reddit não apenas para dar avisos, mas para interagir de verdade com os fãs. Eles pedem feedback, compartilham o progresso do desenvolvimento, mostram artes conceituais e, o mais importante, tratam os jogadores como parceiros. É uma via de mão dupla que gera um senso de pertencimento e lealdade que nenhum anúncio pago pode comprar. É o oposto da grande corporação que fala com a gente de cima para baixo. É a galera que fez o jogo conversando com a galera que vai jogar.

Imagine uma editora de um jogo AA de estratégia espacial. Eles poderiam contratar uma agência de publicidade, que criaria um anúncio genérico sobre “batalhas épicas e galáxias infinitas”. Ou, eles podem criar um servidor no Discord, postar diários de desenvolvimento sobre como eles programaram a IA dos alienígenas, fazer enquetes sobre qual facção os fãs preferem e, de quebra, convidar alguns criadores de conteúdo que são especialistas no gênero para testar o jogo em uma versão pré-alfa. A segunda opção, além de mais barata, gera uma onda de entusiasmo e buzz que é muito mais poderosa do que qualquer publicidade tradicional. Quando o jogo finalmente for lançado, a comunidade já vai estar tão investida na história e na produção que eles se tornarão, eles mesmos, os melhores vendedores do jogo.
O mercado de games AA é a prova de que, no mundo digital, o tamanho não é tudo. A qualidade, a autenticidade e a conexão com a comunidade são moedas mais valiosas do que o dinheiro. E para nós, jogadores, essa é a melhor notícia. Porque isso significa que os jogos que nos conquistam com a alma, com a criatividade e com o talento de seus desenvolvedores, terão cada vez mais a chance de serem descobertos. Eles não terão que competir com o marketing avassalador dos gigantes. Eles terão seus próprios caminhos, construídos com a confiança de uma comunidade que se tornou parte da jornada. É a vitória do conteúdo, da conexão e, no final, da diversão.
Deixe nos comentários abaixo: Qual jogo AA você conheceu e se apaixonou por ele por causa da recomendação de um criador de conteúdo?